sábado, 4 de abril de 2009

Chartier e o texto

A edição de março da revista Nova Escola trouxe, na seção pensadores, o historiador francês Roger Chartier, discutindo os significados sociais dados aos textos pelo autor e pelo leitor. Chartier é bastante conhecido por seus estudos sobre a trajetória de leitura e da escrita como práticas sociais.

De acordo com Chartier, uma só obra possibilita variadas possibilidades de interpretação, variando em relação ao suporte, da época e da comunidade em que circula. O autor concentrou-se nos estudos sobre as práticas culturais em torno dos livros, da leitura e da escrita ao longo da história. Ele discute a revolução gerada pela transição da leitura do rolo do papel (em que você necessita usar as duas mãos para manusear o rolo) para o códice (que se apresenta como volume encadernado, com páginas e capítulos, o que permite liberar as mãos para anotações no decorrer da leitura) e, agora, a introdução do suporte eletrônico (em que todos os tipos de obras já escritos podem ser acessados em variados formatos).

Em uma entrevista ao JB online Chartier responde sobre as principais mudanças trazidas pelo computador da seguinte forma: “São três: a leitura descontínua, a leitura hipertextual e a leitura tematizada. Na tela do computador, a prática de leitura se organiza geralmente a partir de temas. Os textos eletrônicos são consultados mais como banco de dados do que como obra. Com isso, há uma tendência à fragmentação, porque perde-se a referência à obra completa, como início, meio e fim. Outra coisa interessante desse suporte é o hipertexto, que oferece a oportunidade para o leitor de romper com a ordem seqüencial do texto impresso e praticar uma leitura particular, que continuamente introduz textos dentro de outros textos. Com isso, a leitura de um texto de história, por exemplo, pode transformar-se totalmente. O leitor pode consultar documentos digitalizados, conferindo as notas do autor com as próprias fontes”. Portanto, segundo o autor, essa foi a mais radical das transformações na técnica de produção e reprodução de texto e na forma como são disponibilizados.

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